sábado, 7 de abril de 2012

Sobre até aqui.


Eu não esqueço o quanto a história da "Cinderela" mexeu comigo, Cinderela me contou que eu não precisava ter a melhor família, o melhor vestido, a melhor moradia, eu só precisava ter fé, esperança em dias melhores. Então cresci um pouquinho mais e ganhei uma Barbie, uma mulher magra, bonita, cabelos longos e sorriso sempre aberto, mas depois de alguns meses de convivência, comecei a pensar "coitada, tão bela e sozinha com seus vestidos de meias furadas costuradas por mim" ela precisa de um Ken!
A indústria, a Disney, o mundo, criou uma mulher que cresce esperando pelo o homem perfeito, o amor perfeito, a vida perfeita. Aquele que vai te procurar por todos os becos e porões com seu sapatinho nas mãos, até te encontrar e te amar e te amar e te amar e serem felizes para sempre.
Se existiu uma mulher real nos contos de fadas, foi Rapunzel, que do alto da sua solidão doída, jogou seus cabelos-corda para finalmente viver. E o mais bonito em Rapunzel é que ela não foi salva pelo príncipe, foi salva pelos cabelos que por anos cresceram com sua solidão e suas dúvidas. Foi a própria força e crença e anos de cabelos e sentimentos crescendo que a salvou. O príncipe, foi só amor subindo pelos cabelos claros e chorosos dela, o príncipe era amor chegando, graças as tranças da vida dolorida. 
E no final das contas, quando as Barbies e Kens e Batmans e Homens Aranhas e Cinderelas já estão encaixotados, descobrimos entre primeiros beijos e transas e porres e traições, que não, os contos de fadas não funcionam na vida real, porque a vida é real, porque o amor é real. O meu amor, o seu amor, o amor da fulana são energias que se complementam e se salvam, se ajudam. Somos todos heróis e princesinhas abandonadas no alto de seus castelos da infância e somos todos amor, aquele verdadeiro, importante, dolorido e curandeiro também. Sem ele seria um porre acordar todos os dias e trabalhar e trânsito e contas e violência e encanadores e famílias e roupas estendidas no varal.
E isso a gente entende, mais cedo ou mais tarde que tudo, tudo é um caminho, até a descoberta do que nos move: você, eu, teu colega chato de trabalho, tua vizinha de almoços cheirosos, a Barbie, a Cinderela, a Rapunzel: o amor e a intuição pulsante, certeira da sua existência.



Um comentário:

Fátima salles disse...

Que delícia de texto ,gente!!