sábado, 31 de agosto de 2013

Pra saudade dormir um pouco.

Saí da rodoviária, passei pela ponte, olhei a lua, senti o sol-das-cinco, senti saudade, senti falta da tua mão na minha, do teu sorriso, da tua voz cantando tua poesia, a poesia dos outros, senti.
Apaguei o cigarro, entrei na estação, inseri o bilhete, atravessei a catraca, fui pro lado errado da escada rolante, voltei pro certo, pensei em você, em você rindo da minha falta de memória, em você chegando, em você partindo, no teu sorriso.
Desci as escadas, esperei o trem, olhei os carros no outro lado da rua, pensei em você, na tua mão na minha, nos teus olhos pros carros, nos teus olhos pra nós.
Senti o vento, o vento-barulho que chegava, esperei atrás da faixa amarela, pensei em você, em você chegando, em você-abraço, em você-chuva, em você-trem.
Entrei, procurei um lugar pra sentar, encontrei, encontrei um só e pensei em você, em você em pé do meu lado, tirando os cachos dos olhos, pra gente se ver e rir e falar sobre qualquer coisa.
As estações passaram, as sete que antecedem a "1º de Maio" e pensei em você, "estação primeira de mangueira: 9.7".
Chegou o ponto final, desci, desci e fui mais uma vez pro lado errado da escada, encontrei o lado certo, subi. Subi e pensei em você abraçando minha cintura enquanto os degraus deslizavam.
Atravessei a catraca, respirei fundo, saí naquele pátio enorme, olhei o céu, olhei o morro, senti o sol-das-cinco-e-meia mais leve, mais amigo, mais abraço e pensei em você, na nossa discussão sobre o tempo e a liberdade, sobre nossa vontade, sobre nosso cuidado em seguir em paz.
Ascendi um cigarro, atravessei a ponte e lembrei, quando estava descendo as escadas, que é proibido fumar ali. Então, cumprimentei o guarda, correndo, pedi desculpas, ele sorriu, eu saí e encontrei a avenida. Pensei em você, em querer fazer amor no cilindro de concreto, na nossa primeira discussão, na primeira vez que disse "eu te amo" e senti meu corpo tremer.

Respirei sorrindo, atravessei a avenida movimentada, olhei a pracinha, subi, subi, cansada, olhei a academia e pensei "preciso malhar, preciso!".
Antes de entrar em casa cumprimentei os vizinhos, pisei em casa enfim, cansada, quente de sol, fiz festa pro cachorro que te procurou atrás da porta.

Pensei em você, em você dormindo de boca aberta, na tua voz rouca dizendo "bom dia", no teu cabelo bagunçado no travesseiro, no teu corpo, no nosso. Pensei na sua viagem de volta, se conseguiria ver a lua, se o balanço do ônibus te deixaria escrever, pensei no teu sorriso de dentro do ônibus e na felicidade de não precisar contar o tempo com você.

Pensei nos beijos, pensei nos nossos dias e no quanto tenho pra dizer e falta palavra.
Então pensei no tempo, no tempo que temos pra descobrir o encaixe das palavras, no tempo que sobra e não há de faltar nunca.

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