Ela gostava de guardar no bolso imenso do casaco amarelo, todas as coisas do mundo.
Guardava cores, o cheiro dos amigos de infância, o vento-bagunça-cabelo, o vento-levanta-vestido, o cheiro de chuva da avó materna, o cheiro de domingo de sol do avô. As previsões catastróficas da melhor amiga virginiana, os beijos que sentiu, o cheiro de cada lugar que viveu, guardou olhos-sorrindo, os conselhos da tia-prima-segunda da vizinha da frente, guardou os que sorriam pra ela, os que foram e prometeram voltar, os que voltaram, os que não...
Um dia encontrou o mar... se olharam, imensos!
Entregou o que tinha.
Tirou o casaco, se desfez do botão colorido e sacudiu devagar pra se despedir de tudo.
Ficou ali, olhando o mar abraçar teus dias sem pressa, fechava e abria os olhos, sentia o vento, respirava fundo, aliviada, todo silêncio do mundo e ela.
Menina que tanto guardou do mundo, agora derramava mar dos olhos.
4 comentários:
nossa, que lindo, isso...
Vou pegar pra mim tá?
"Menina que tanto guardou do mundo, agora derramava mar dos olhos."
Algumas vezes encontramos frases perfeitas. Essa é uma delas. Cada palavra está no lugar que sempre deveriam ter estado. Acho que sempre estiveram assim, e você finalmente as descobriu.
E só sentia aquele gosto salgado despencando dos olhos e encharcando a boca.
Postar um comentário